Há quinze dias, com o aumento da instabilidade da pandemia, o governo do estado de São Paulo e o centro de contingência da covid-19 decidiram que o estado de São Paulo vai retornar para a fase amarela a fim de evitar aglomerações e o aumento do contágio da Covid-19, o que pode significar que a abertura dos setores de cultura e lazer voltem a acontecer somente quando a cidade voltar para a fase verde do Plano São Paulo (uma vez que as prefeituras têm autonomia para decidir o que e quando deve reabrir).
Por isso, no post de hoje, a fonoaudióloga Raquel Luzardo, especialista em linguagem e atendimento infantil, nos dá dicas de brinquedos e brincadeiras para fazer dentro de casa para estimular a linguagem e as habilidades linguísticas nas crianças.
Como estimular a linguagem e as habilidades linguísticas nas crianças
Os brinquedos e as brincadeiras, além de serem um meio de distração e de entretenimento para as crianças, são importantes no processo de desenvolvimento cognitivo. É brincando que elas desenvolvem a memória, a criatividade, o raciocínio e a solução de problemas. É nas brincadeiras que a criança se relaciona com o mundo e o brinquedo é o estimulador da curiosidade e da iniciativa, proporcionando uma divertida forma de desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção.
Os primeiros seis anos de vida de desenvolvimento da criança são fundamentais. É a fase onde se deve ter mais atenção aos estímulos que as crianças recebem.
Raquel Luzardo mostra a importância dos jogos lúdicos na primeira infância e dá algumas dicas de brinquedos e brincadeiras para cada faixa etária.
Estimulando os sentidos
De 0 a 2 anos
Durante os primeiros anos, a criança explora os brinquedos de várias maneiras: leva à boca, deixa rolar ou joga no chão. É importante experimentar por meio do tato, da audição, do olhar, do paladar ou do olfato. Os brinquedos devem ter diferentes texturas, diversas cores e fazer sons variados para desenvolver a percepção sensorial. São com os brinquedos que as crianças aprendem noções de tamanho, forma, som, textura e como funcionam as coisas.
“Os bebês adoram apertar, sacudir, jogar, bater, empilhar. Nessa fase, o ideal são brinquedos leves para que possam colocar na boca, móbiles que eles possam tocar, chocalhos, bichinhos de borracha que produzem som, brinquedos flutuantes para o banho, livrinhos de pano, grandes cubos para empilhar”, sugere Raquel.
Por volta de um ano, as crianças começam a dar os primeiros passos e já conseguem interagir com outras crianças e adultos. Mas ainda levam coisas à boca. Nessa fase é importante que os brinquedos não contenham peças pequenas que podem ser engolidas. “Dê preferência aos brinquedos certificados pelo Inmetro”, orienta.
Entre 1 e 2 anos, as crianças ainda vão se divertir com os brinquedos que já possuem, mas também vão gostar de livros com ilustrações de objetos familiares, carrinhos que possam puxar ou empurrar, brinquedos de montar e desmontar ou simples caixas com coisas dentro para tirar e colocar de volta. Instrumentos musicais, como pianinhos, cornetas e tambores também são indicados. “Nessa idade é importante que elas comecem a guardar seus brinquedos. Estimule a fazer isso como parte da brincadeira. Pode cantar uma musiquinha no tema para incentivar”, sugere a fono.
No mundo da fantasia
De 3 a 6 anos
Nesta fase, os brinquedos vão ajudar a estimular, além da linguagem, o conhecimento, a coordenação motora e também a imaginação.
As crianças gostam de bonecas, casinhas, carrinhos, fantasias e tudo que estimule o faz de conta. É com essa idade que elas serão príncipes, princesas, super-heróis e vão adorar brincar de casinha, policial, mamãe e filhinha, e outros personagens. É vivendo esses papéis que elas entendem porque a mãe fica brava, elabora a raiva que sentiu quando o amiguinho pegou seu brinquedo, imita a professora, voa como o Super Homem, etc.
Brinquedos que estimulem o faz de conta, como fantasias e equipamentos que complementem o seu mundo imaginário são importantes nesta etapa. “Sugiro supermercado em miniatura com dinheirinho de brinquedo, caixa registradora, telefone, cidadezinhas, zoológico, fazendinha, posto de gasolina, fantoches, fantasias, bonecas e casinha com móveis, utensílios de cozinha e comidinhas.
Elas já podem brincar com brinquedos de montar e desmontar mais elaborados. Como não levam mais as peças à boca, os brinquedos podem ter pecinhas menores”, diz Raquel. Livros de histórias com figuras coloridas também são indicados.
Jogos com regras fáceis também ajudam a trabalhar o raciocínio e as emoções. Com jogos em que se ganha ou perde, as crianças começam a trabalhar a frustração. Aprender a lidar com esse sentimento e poder verbalizar é essencial para o seu equilíbrio emocional e o desenvolvimento psicossocial.
Outras ideias: massinha de modelar, giz de cera, quadro-negro com giz, quebra-cabeça, jogo da memória, Lego.
Hora do Jogo
Crianças de 7 a 12 anos
Nesta idade, ser aceito pelos amigos é muito importante e o jogo corporal se evidencia nos esportes. A convivência se aprimora com os jogos de bolinhas de gude, brinquedos de montar, jogos de tabuleiro e de cartas que, além de incentivar a competição saudável, desenvolvem aspectos linguísticos e sociais. Mais velhas, as crianças desta faixa etária já podem brincar com jogos de regras e devem ser estimuladas a ler e fazer atividades que envolvam habilidades físicas. São indicados para esta fase os jogos como quebra-cabeças e jogos de tabuleiros, que devem começar de forma bem simplificada, com poucas peças ou peças grandes e regras simples de cumprir. Com o tempo, os jogos podem ir ganhando complexidade conforme as crianças forem crescendo. Também vão gostar de objetos que estimulem a imaginação e as descobertas, favorecendo também o aumento do vocabulário e a estruturação do pensamento.
Para esta fase, a sugestão também são livros, jogos de tabuleiro, jogos de mesa, lupa, luneta, kits de mágico ou de cientista, equipamentos eletrônicos e esportivos, bolinhas de gude, corda para pular, patinete, bicicleta, quebra-cabeças, Lego.
Entre 9 e 12 anos
Os pré-adolescentes já estão em fase de definir seus gostos e interesses. Segundo Raquel, os pais já podem consultá-los sobre o que gostariam de ganhar. No entanto, é válido despertar neles o gosto por coisas que os estimulem a raciocinar, a se mexer e usar a criatividade.
A orientação para a escolha dos brinquedos não pode se basear somente no critério de indicação por faixa etária. Cada criança tem um ritmo próprio de desenvolvimento e características pessoais únicas que a diferencia das demais. “Além da idade, devemos também levar em consideração a individualidade da criança, seus interesses e gosto pessoal”, lembra a fonoaudióloga.
Brincadeiras divertidas
- acampamento diferente: vale montar a barraca no meio da sala ou improvisar com lençóis, cadeiras e almofadas;
- piquenique maluco: que tal estender uma toalha no chão da sala e fazer um jantar diferente?
- jogos diversos: de tabuleiro, pega varetas, dominó, memoria, damas;
- uma caixa de papelão grande pode virar uma casinha ou um foguete. Use a imaginação!
- caça ao tesouro: esconda as pistas pela casa;
- corrida de aviões de papel: vale decorar os aviões com canetinha ou usar as folhas de uma revista velha;
- memória de objetos: selecione alguns objetos e peça para a criança observar por alguns segundos. Depois esconda um e ela tem que descobrir qual objeto está faltando!
- troca-troca de lugar: observar por 1 minuto um dos cômodos da casa – a sala por exemplo – e depois sair. Mudar algo de lugar (ex: colocar na estante o vaso que estava na mesa). Voltar para o cômodo e tentar adivinhar o que foi mudado de lugar;
- batata quente com o celular: passar o celular de mão em mão com o timer ligado. Aquele que for fotografado, perde;
- barquinhos de papel: vale colocar os barquinhos para flutuar no balde com água ou banheira;
- fui para a lua e levei… : pode ser brinquedos, alimentos, peças de roupas, animais, qualquer categoria. O primeiro diz: “Fui para a lua e levei uma maçã.” O outro diz: “Fui para a lua e levei uma maçã e uma banana”. E assim sucessivamente, sempre acrescentando um item. Quando alguém errar a ordem ou esquecer de alguma coisa começa tudo outra vez com outra categoria;
- qual é a música: falar uma palavra e tem que cantar uma música que tenha aquela palavra na letra. Use o repertório da criança.
Raquel Luzardo, casada com o Yan e mãe do Gabriel, é Diretora da Clínica FONOterapia com atuação em atendimento infantil, orientação familiar e assessoria escolar.