Dividi o post sobre minha segunda experiência com a amamentação em três partes: o primeiro post recebeu o nome de Lua de Leite, o segundo Mitos e verdades sobre amamentação e o terceiro é este post, onde falo sobre o período de amamentação exclusiva da Maria Júlia.
Os dois primeiros posts foram mais fáceis de escrever. Neles conto sobre o meu desejo de amamentar minha segunda filha por mais tempo que amamentei a primeira, sobre como me preparei para ter tempo e isolamento para conectar-me ao meu segundo bebê e, por fim, comentei alguns mitos e verdades sobre amamentação retirados da cartilha da amamentação fornecida pela maternidade no dia da minha alta.
Confesso que este foi um post difícil de escrever porque no últimos meses ainda tive muitas dúvidas e conflitos internos a respeito do assunto. Explico:
Tive o privilégio de amamentar a minha segunda filha ainda no centro cirúrgico, e daquele momento em diante a amamentei em livre demanda, como sonhei em fazer desde que conheci o método e seus benefícios há mais de 2 anos (post aqui). Com ajuda da Internet (buscas no Google e YouTube) e da cartilha que recebi na maternidade, superei os problemas de fissuras nas mamas, pega incorreta e o cansaço das primeiras semanas. E lá fomos nós (meu marido e eu) para a primeira consulta com o pediatra. E foi aí que todas as caraminholas entraram na minha cabeça.
10 dias de vida
Minha filha nasceu com 3,480Kg. Dez dias depois do seu nascimento pesava 3,295Kg. Assim, o pediatra me disse que provavelmente eu tinha pouco leite, afirmou que minha filha estava abaixo do peso e perguntou se eu gostaria que ele prescrevesse fórmula infantil para lactentes para complementar as mamadas do meu bebê. Meu marido e eu nos entreolhamos e a minha resposta foi “não”. Complementei a resposta contando sobre o fato da minha primeira filha ter apresentado alergia à proteína do leite de vaca e exatamente por isso ter medo de introduzir uma alimentação à base de leite de vaca modificado na minha segunda filha. Voltei para casa com a receita de uma vitamina para o bebê e de um remédio que tecnicamente ajuda a aumentar a produção de leite para mim.
Realmente senti que o tal remédio aumentou a produção de leite, mas estava em desespero por imaginar que não estava sendo capaz de nutrir o meu bebê. E aí vieram muitas, muitas dúvidas sobre a quantidade de leite que produzia e o que eu poderia estar fazendo de errado. Sentia meus seios inchados, doloridos, quentes e enrijecidos. Minha filha mamava em livre demanda. Será que minha filha estava mamando somente o leite materno anterior, aquele que vem no começo da mamada, possui pouca proteína e pouca gordura (conheça os 4 tipos de leite materno aqui)? Será que a pega realmente estava correta? Enfim, tantas dúvidas fizeram com que alguma providência fosse tomada: chamei uma consultora de amamentação.
A visita da consultora em aleitamento materno
Recebi a consultora em casa, num horário que meu bebê costumava cochilar e assim pudemos conversar com calma. Minha filha acordou e a consultora conferiu a pega, que felizmente estava correta, e ensinou-me outras posições para amamentar meu bebê. Conferiu se ela estava engolindo o leite enquanto a observávamos mamando. Também me passou segurança e encorajou-me a resistir ao complemento, mesmo com a pressão do pediatra. Receitou o chá da mamãe, da Weleda, um chá misto indicado para o período de lactação. Reforçou a ingestão de água. E o mais importante: explicou que há duas tabelas de crescimento, a primeira para bebês alimentados por fórmula infantil e a segunda para bebês amamentados. De acordo com a primeira tabela meu bebê deveria engordar cerca de 35 g por dia e respeitando a segunda tabela é aceitável o mínimo de 16 g por dia. Minha pequena engordou em média 22 g por dia. Contudo, o assunto estava encerrado por aqui, até segunda ordem.
1 mês de vida
Minha pequena completava um mês de vida e lá fomos nós para mais uma consulta com o pediatra. Agora minha filha pesava 3,845Kg, o que significava que havia engordado 24 g por dia. O pediatra perguntou novamente se desejávamos que ele prescrevesse fórmula infantil para lactentes para complementar as mamadas, uma vez que ela ainda não alcançara a marca de 35 g por dia, e novamente respondo que não. E lá fui eu para a consulta com a psicóloga.
A consulta com a psicóloga
Em consulta com a psicóloga que me acompanhou no pré-natal, ela disse que não ficou surpresa com a minha preocupação sobre a capacidade de nutrir meu bebê. Pois, nas consultas de pré-natal, falei bastante sobre a dificuldade que estava tendo para me “desligar” do trabalho, o que a fez sentir o quão sou preocupada, e aconselhou-me a relaxar. Também reforçou a velha dica de dormir enquanto o bebê dorme.
Passaram-se os dias e eu fazia o possível para dormir enquanto meu bebê dormia. Passei a comprar água mineral em garrafa e as deixava em pontos estratégicos da casa, como no meu quarto e no quarto da caçula (meus lugares preferidos para amamentá-la). E por fim, comprei uma bomba tira-leite.
Uso da bomba tira-leite
A bomba tira-leite serviu para me certificar da quantidade de leite que produzia, mas o principal motivo que me levou a comprá-la foi uma frase que não saía da minha cabeça: “Peito não é estoque, é fábrica”, o que significa que quanto mais o leite materno é extraído, mais é produzido (em consulta com o pediatra o mesmo também havia levantado a hipótese da minha bebê ser “preguiçosa” para mamar).
A bomba tira-leite também me ajudou a complementar as mamadas da tarde (período em que sentia as mamas não tão cheias – caraminhola?) com o leite que havia extraído no período da manhã, nas vezes que minha filha saciava-se mamando apenas em uma mama.
3 meses de vida e porquê cedi ao complemento
Uma semana antes do meu bebê completar dois meses pesava 4,350Kg e com três meses pesava 4,960Kg. E, foi quando minha pequena tinha três meses de vida, que passei pela pior dificuldade na amamentação. Minha filha ficou internada (como contei aqui) e eu passei quatro noites ao seu lado, na UTI Neonatal, dormindo em uma cadeira, para amamentá-la em livre demanda. Saía do hospital apenas para tomar banho em casa e programava minha saída extraindo leite materno para que ela fosse alimentada na minha ausência. O cansaço, a falta de sono e a preocupação com a saúde da minha filha fizeram com que a minha produção de leite caísse consideravelmente. No quarto dia de internação, extraí o leite para que eu pudesse vir até a minha casa tomar banho e poucos minutos antes da minha saída fui informada que tiraram o leite do refrigerador no horário errado e que por isso tiveram que descartá-lo. Chorei de desespero. Tinha acabado de amamentar minha filha e sabia que se tentasse extrair leite naquele momento não conseguiria extrair grande quantidade. Mesmo assim, tentei. Deixei 60 ml para que ela mamasse durante minha ausência e concordei que complementassem a mamada com fórmula infantil.
Estava exausta, quase dormi no volante ao ir para casa. Ao chegar, tomei banho e dormi com o corpo e os cabelos enrolados em toalhas. Dormi por pouco mais de uma hora e ao acordar liguei para o meu marido esperançosa de que nosso bebê havia tomado o leite que deixei mais o complemento. Mas, ele disse que ela aceitou a mamadeira de leite materno e que não aceitou o complemento, nem no copinho, nem colher e nem mesmo na mamadeira. Disse que chorou de fome e que teve dificuldade para dormir. Fiquei desesperada e voltei correndo para o hospital.
No dia seguinte minha filha teve alta e a pediatra da UTI Neonatal aconselhou-me a complementar as mamadas com a fórmula infantil para lactentes, pois minha filha estava abaixo do peso esperado e durante os cinco dias de internação não engordou, apenas manteve o peso.
Até então, embora a amamentasse em livre demanda, havia percebido que o intervalo entre as mamadas havia se estabilizado em cerca de duas horas e ela não apresentava sinais de fome: eu sentia as mamas esvaziarem após as mamadas, minha filha não chorava e mostrava-se satisfeita. Durante as trocas sempre notava as fraldas molhadas e as fezes eram amarelo-mostarda, seguindo uma frequência de pelo menos uma vez ao dia.
Contudo, saí do hospital com uma prescrição de fórmula infantil para lactentes e acabei cedendo ao cansaço, à pressão e à preocupação do peso baixo. O histórico de baixo peso não encorajou-me a tentar a relactação. A Maria Júlia foi amamentada exclusivamente durante 3 meses e 10 dias. Após este período, passei a complementar 3 da média de 5 a 6 mamadas diárias.
Atingindo o peso esperado
Após a oferta de complemento após as mamadas, minha pequena atingiu o tão sonhado peso esperado. Com 4 meses pesava 5,575 Kg e com 5 meses pesava 6,570 Kg. E, como era de se esperar, as mamadeiras passaram de 3 para 5 ao dia. Hoje, com exatamente 5 meses e 24 dias ainda a amamento sem uso de complemento durante a madrugada. Durante o dia, com o uso da fórmula infantil, não a amamento para saciar a sua fome, mas sempre que preciso acalmá-la (como quando está exausta ou com sono) e simplesmente quando ela dá sinais de que quer mamar.
Eu continuo fazendo uso do remédio que ajuda a aumentar a produção de leite. Muito em breve voltarei a trabalhar e com isso passarei a amamentá-la somente nos finais de tarde, durante a noite e madrugada. E confesso que ultimamente continuo enfrentado dificuldades para amamentar, mas estas dificuldades agora são outras: já nasceram os primeiros dentinhos do meu bebê e por isso tenho que tomar cuidado com as mordidinhas. Além disso, minha pequena tem ficado agitada enquanto mama durante o dia, sempre atenta aos sons e pessoas que estão a nossa volta.
Confusão de bicos
De acordo com a Anna Carolina Polato, da Momy Assessoria, para o blog Mamãe Plugada, a confusão de bicos se caracteriza pela dificuldade que o bebê tem em aceitar o seio materno após ter utilizado a mamadeira ou chupeta. E mesmo sabendo que esta confusão pode acontecer, mais uma vez, por insistência da família (como contei neste post), ofereci a chupeta para a Maria Júlia antes mesmo de completar um mês de vida. Inteligente, ela não gostou. Somente aceitava a chupeta quando estava com muito, muito sono. Dormia e largava a chupeta. E assim foi acontecendo até ser alimentada com a mamadeira. Após a mamadeira, ela tanto pegou a chupeta quanto alterou a pega. Sua pega ficou mais leve, mas não rejeitou o seio materno.
Fórmula infantil para lactentes
Durante a internação do meu bebê na UTI Neonatal, informei que minha primeira filha teve APLV com quadro respiratório importante, edema de mãos e pés e urticária, por isso forneceram uma fórmula infantil a base de aminoácidos livres, não alergênicos. Esta mesma fórmula infantil foi prescrita para complementar as mamadas do meu bebê após a sua alta. Ela demorou 3 dias para aceitar o complemento e como o gosto desta fórmula infantil é muito ruim, só consegui que aceitasse com a adição de essência de baunilha. Posteriormente, como esta primeira fórmula infantil indicada é muito cara, o pediatra sugeriu que a trocássemos gradativamente por uma fórmula infantil mais barata, criada para bebês que apresentam um maior risco de desenvolver alergias. É esta fórmula infantil que ela vem tomando até hoje.
Sobre a minha segunda experiência
Nesta minha segunda experiência com a amamentação aprendi muitas coisas. Perdi a vergonha de amamentar em público e só fiz uso da capa para amamentação por duas ou três vezes, aprendi a interpretar os sinais do meu corpo para identificar uma mama cheia ou vazia, aprendi a interpretar os sinais do meu bebê de quando precisa ou simplesmente quer mamar e o principal: encontrei prazer na amamentação. Prazer em sentir meu bebê tão perto, em um momento exclusivamente nosso. Não é à toa que o fato da amamentação aumentar o vínculo entre mãe e filho é apontado como um dos benefícios da amamentação. Amamentar é amor líquido!
A minha dica
Espero que o relato da minha segunda experiência com a amamentação traga uma dica aqui outra ali para quem está amamentando. Agora, se você não está amamentando e presencie uma mulher amamentando seu bebê, vou deixar uma dica valiosa. E não é aquela dica de etiqueta que diz que a hora de amamentar é hora de ir embora numa visita ao recém-nascido. Ao presenciar uma mulher amamentando, ofereça um copo com água para a mamãe deste bebê. É um ato gentil e a ajudará muito, pois durante a amamentação sentimos muita sede. Não dê palpites, não faça insinuações, não mostre-se acanhada(o), não a deixe sozinha e muito menos faça perguntas. Apenas lhe ofereça um copo com água.
Um abraço,