Lá em casa, os beijos na boca da minha filha surgiram por uma questão cultural. Carrego a aprovação desta forma de carinho pois me recordo dos selinhos que recebia do meu pai até a idade que hoje tem minha filha. Confesso que era ele quem sempre os recebia e não me lembro de ter a mesma atitude com minha mãe. Com a minha filha a história se repetiu. Não me lembro exatamente quanto tempo de vida ela tinha quando eu recebi seu primeiro selinho, mas provavelmente foi com pouco mais de um ano. Assim, acabamos por criar o hábito que se estendeu para o meu marido. Nós encaramos o selinho como uma demonstração pura de afeto que temos certeza que contribui para o desenvolvimento da nossa pequena. E sempre procurei ser clara, conversando com ela sobre as demonstrações de carinho, a alertando que estas e outras formas de contato só podiam ser aceitas entre nós três, membros da família. Hoje, os selinhos têm rolado com uma frequência muitíssimo menor por aqui, principalmente porque na maioria das vezes a atitude partia dela – mais um marco de que nosso bebê cresceu.
Beijar a boca dos filhos é um assunto polêmico. Por isso, além da minha opinião, trago os depoimentos de algumas especialistas encontrados na Internet:
Psicóloga clínica e professora do Departamento de Psicologia da PUC Minas, Heloísa Cançado Lasmar faz algumas ressalvas. “Sim, o selinho é uma demonstração de carinho, mas a criança não pode ser objeto da satisfação do adulto. A criança pequena tem muita pouca possibilidade de sair desse lugar porque é completamente dependente da mãe, do pai ou do cuidador”, pondera. A especialista explica que a criança é um sujeito com muita dificuldade de encarar o que é ser separado do outro. “Já é uma dificuldade de todos nós, sempre queremos ser o primeiro, o queridinho da mamãe ou de alguém a vida inteira, mas a vida é feita de repartição. Quem não conseguir sair do colo da mãe, não conseguirá fazer o próprio caminho. A criança não deve ser usada como objeto de prazer do outro”, afirma.
A psicanalista e psicopedagoga Cristina Silveira reforça que, na visão psicanalítica, entre 5 e 7 anos o selinho não é aconselhável já que a criança está na fase edipiana e passa por um processo chamado castração. “Se for uma criança com amor intenso pela mãe ou pelo pai, esse selinho pode ganhar um sentido erotizado e dificultar a resolução dessa fase”, explica. Para ela, no caso de crianças menores de 5 anos a questão cultural familiar ganha mais peso. “Têm famílias que enxergam esse beijinho na boca como algo inadmissível, a criança vai seguir o valor que essa família tem”, diz. E acha fundamental para pais e mães adeptos do selinho a conversa com os filhos. “A criança precisa entender o que é certo e o que é errado. O diálogo é muito importante. É um gesto de carinho? Ok, mas os pais precisam proteger a criança com informação, devem explicar e repetir sempre que o beijinho na boca é só entre eles. A criança que cresce no ambiente onde o selinho acontece, vai achar que em outras situações pode fazer a mesma coisa”, salienta.
Além da questão psicológica, devemos ponderar também a questão da saúde:
Membro do Comitê de Cuidados Primários da Sociedade Mineira de Pediatria, Ligia Kleim ressalta que a boca é local de vários germes. “No beijo na boca, esses germes podem se tornar patológicos dependendo do estado imunológico das pessoas que trocam o carinho”, salienta. A pediatra diz ainda que as crianças estão mais sujeitas a terem doenças e cita algumas que podem ser transmitidas pelo beijo: coqueluche, meningite, mononucleose e as de transmissão respiratória. “Mesmo que o adulto não esteja doente, ele pode trazer esses vírus na boca. Em uma criança maior ou em adolescentes os riscos seriam menores. Quanto menor a criança, menos imunidade ela tem e maiores são as chances de que elas desenvolvam alguma doença”, observa. E a especialista brinca dizendo que não é esperado que os pais usem máscaras durante o contato com seus filhos. “O afeto e carinho são fundamentais para o desenvolvimento saudável do bebê. Ressalto a importância de pais e cuidadores estarem em dia com a saúde oral e com a higiene bucal diária para controlar a contaminação”.
Fonte: Saúde Plena
E você, beija o seu filho(a) na boca?
Um abraço,
Mari.