Como os pais e a escola podem ajudar no processo desse desenvolvimento

A chegada de um bebê na família é sempre motivo de alegria. Um sorriso, o balbucio, as primeiras palavras com significado, todo o seu desenvolvimento é comemorado. Cada uma destas conquistas é um indicador de como está ocorrendo o desenvolvimento da fala e da linguagem da criança. Mas quando algo sai do padrão esperado, é necessário procurar ajuda de um profissional.

Qual a diferença entre linguagem e fala?

A linguagem é o primeiro passo para a fala, é tudo o que envolve conceito das coisas, que transmite alguma informação ao interlocutor: nomes, funções, cores, formas. É a base da comunicação, pode ser verbal ou não verbal. E fala nada mais é do que movimentos articulatórios combinados, que produzem sons com significado na língua materna.

Linguagem e fala não são sinônimos, tanto que muito antes do bebê emitir suas primeiras palavras (fala), já é capaz de utilizar-se de codificação (linguagem) para se relacionar com o meio e seus familiares. O desenvolvimento da linguagem e da fala não precisam ser considerados separadamente, porque um tem muita relação com o outro.

Desenvolvimento da Linguagem

Ainda que as pessoas apresentem diferenças, é possível prever o que ocorre em cada etapa de aquisição da linguagem por faixa etária e os fatores que podem influenciar o desenvolvimento da linguagem infantil.

Linguagem e fala

0 – 12 meses

Características o choro é o principal meio de comunicação, com o passar dos meses, surgem os sons guturais. Com seis meses, o bebê já se acostuma com a voz familiar e começa a procurar a fonte dos sons. Com maior controle motor, os sons vão sendo reproduzidos ou para ouvir a própria voz ou para obter reações daqueles que estão a sua volta, iniciam consonantizações: “p”, “b, “m”, “g” e “k” e silabações: “gugugaga”, “dadada”, reações emocionais ou de interesse como choro, risos, e gritinhos, conforme o que ouve ou vê a sua volta, observa os objetos e acontecimentos do ambiente, passa a falar as primeiras palavras e a usar mudanças de entonação vocal.

O que fazer converse durante o banho, alimentação e trocas, fale o que está fazendo, nomeie as partes do corpo, brinquedos que emitam sons ou que brilhem são de grande interesse do bebê, busque estar sempre no campo de visão do bebê, use e abuse de entonações vocais e emissão de sons de objetos e animais, aproveite para trabalhar vocabulários.

O que evitar evite se antecipar: é comum ao menor gesto do bebê o adulto já atender ao pedido rapidamente “adivinhando”.

O bebê precisa começar a se esforçar para se fazer entender.

Atenção  Se o bebê não reage a sons, não sorri, não estabelece contato visual.

1 – 2 anos

Características começa a compreender palavras com sentido abstrato (emoções, “obrigado”, “por favor”, “espera”), reage as situações chegando até a simular sentimentos para conseguir o que quer. Compreende o que as pessoas esperam dela pelo tom de voz e expressão corporal e facial. No início, pode usar de 20 a 30 palavras e as repete, dando início à formação de frases simples, compreende mais de 50 palavras e identifica objetos comuns e partes do corpo, usa onomatopeias e imita os sons de objetos, faz variação na entonação vocal, na postura corporal e expressão facial de acordo com o contexto. Próximo do 2º ano, apresenta um vocabulário de cerca de 100 palavras, formando frases com 2 ou 3 delas. A fala, na maior parte das vezes, é ininteligível, difícil de entender, passa a usar a oralidade não somente para pedir ou nomear, mas também para compartilhar interesses. Tenta cantar quando ouve uma música que gosta. Demonstra conhecer alguns conceitos de tamanho, distância, cores e formas. Compreende ordens com dois comandos, por exemplo: Coloque o copo na mesa;” “Pegue o brinquedo na estante”.

O que fazer rodas de leitura descrevendo as imagens do livro: expresse emoções com os personagens, faça suposições sobre o que pode acontecer a seguir, compartilhe interesses por características do local em que os personagens estão e das roupas que usam. Com a música cante junto, faça coreografias que remetam a palavras que estão sendo cantadas. Use a contagem para regular a espera (um, dois, três e já). Dê repertório de palavras para a criança, nomeando objetos, ações e situações a sua volta. Use uma fala que seja clara e simples para a criança utilizar como modelo.

O que evitar se antecipar quando a criança quer comunicar algo. Uso de chupeta e mamadeira podem trazer problemas, como alterações na arcada dentária ou projeção da língua ao falar.

Atenção Se a criança: não reage a estímulos, não usa palavras isoladas, não está ampliando o vocabulário.

2– 3 anos

Características usa cerca de 500 palavras. Estrutura frases simples. Pode apresentar uma gagueira natural – disfluência fisiológica. Aos poucos suas frases vão ficando maiores, agregando o uso de artigos, verbos, preposições, plurais e verbos auxiliares, inicialmente de forma assistemática e posteriormente sistemática. Apresenta um bom conhecimento de verbos, respondendo adequadamente quando é solicitado a realizar diversas ações (comer, andar, correr, pegar) em diferentes contextos. Tenta reproduzir em objetos ritmos de sons e músicas. Conhece diversas cores.

O que fazer  repita o que ela diz indicando que você entendeu. Mantenha uma conversa por mais tempo do que o habitual, para que a criança tenha cada vez mais contato com discursos longos e complexos. Durante as leituras, faça perguntas para criança sobre o que aconteceu anteriormente e suposições sobre o que poderá ocorrer nas próximas paginas; use entonação vocal diferente para cada personagem.

O que evitar Em momentos de gagueira, evite: completar frases, apressar a criança, mostrando impaciência. Peça para que se acalme e respire antes de falar.

Atenção Se a criança: não compreende instruções simples. Tem vocabulário reduzido. Apresenta alguma regressão.

3 – 4 anos

Características usa cerca de 800 palavras. Demonstra conhecer conceitos: duro, mole, macio. Começa a ter diálogos e pensamentos que envolvam raciocínios de tempo e a fazer argumentações. Entende e tenta replicar ironias e piadas. Inicia discurso em todos os contextos: para solicitar, mostrar e contar algo ou apenas para interação social.

O que fazer  A criança já inventa histórias, compreende regras e jogos simples. Aproveite para estimular essa interação e invista nas brincadeiras de faz de conta. Continue estimulando a conversação, servindo de modelo.

O que evitar evite sempre que possível fazer outras atividades enquanto fala com a criança, encorajando que ela faça contato visual ao conversar. A presença de fala infantilizada, gagueira funcional e dificuldades em estruturar discursos ainda podem estar sendo trabalhadas pela criança e não devem ser reprimidas, é preciso ter paciência!

Atenção Se a criança: utiliza discursos que ninguém compreende. Usa mais gestos do que palavras. Não adquiriu ainda todos os fonemas ou realiza trocas de sons na fala.

Acima de 4 anos

Características com vocabulário ampliado, a criança tem fala adequada e correta, sendo capaz de pronunciar melhor as palavras e relacioná-las bem. Nesta fase, gosta de inventar histórias, é capaz de descrever melhor acontecimentos passados e usa a linguagem para o raciocínio. Compreende mais de 2,5 mil palavras, conhece opostos e já mantém mais a atenção.

O que fazer Converse sobre conceitos abstratos (duro, mole). Incentive a fazer perguntas e fornecer respostas. Incentive leitura e escrita, O uso de conceitos como sinonímia (palavras que apresentam significados iguais ou semelhantes, por exemplo: bondoso-caridoso) e antonímia (palavras que apresentam significados diferente, contrários, por exemplo: bondoso– maldoso).

O que evitar Não apresse a fala da criança. Não imite o falar errado. Não repreenda quando a criança falar, ler ou escrever errado.

Atenção Se a criança: não consegue descrever acontecimentos troca sons na fala, não articula corretamente ou não faz perguntas não reconhece letras, usa frases sem coerência ou lógica, tem algum tipo de gagueira.

Cada criança tem um tempo de desenvolvimento próprio, assim como para a aquisição da fala e linguagem, mas é com a participação e ajuda de todos que estão ao seu redor que essa conquista pode ser leve, no seu tempo e sem traumas.

Raquel Luzardo, fonoaudióloga, especialista em linguagem, diretora da Clínica FONOterapia, atua há mais de 16 anos em atendimento infantil, orientação familiar e assessoria escolar. Casada com o Yan e mãe do Gabriel, acredita que a comunicação é a ferramenta para as relações acontecerem de forma plena e feliz!

De acordo com o Conselho Regional de Fonoaudiologia de São Paulo, o fonoaudiólogo é um profissional de saúde responsável pela promoção da saúde nos aspectos fonoaudiológicos da função auditiva periférica e central, da função vestibular, da linguagem oral e escrita, da voz, da fluência, da articulação da fala e dos sistemas miofuncional, orofacial, cervical e de deglutição.

O atendimento fonoaudiológico clínico compreende a criança como um todo. Dessa forma, o profissional busca entender os pais, suas angústias e o contexto social e emocional de cada paciente. É a partir da queixa da família que se realiza um estudo do caso.

Assim, em 2017, quando nossa primogênita estava com 7 anos, procurei por uma clínica de fonoaudiologia a fim de tratar pequenas trocas de palavras (como máquina e mánica, por exemplo) e alterações de voz (voz muita alta, mesmo pedindo repetidas vezes para que ela falasse baixo), que resultava em disfonia (popularmente conhecida como  rouquidão). Porém, a pequena não gostou do método aplicado na terapia fonoaudiológica (que somente um profissional da área poderia detalhar aqui), perdeu o interesse e passou a chorar para não ir à terapia. Portanto, com o propósito de descansarmos durante as férias de fim de ano, abandonamos a terapia.

Contudo, há dois meses, senti grande necessidade de retorno à terapia devido a uma nova queixa: troca acentuada de letras na escrita.

Minha pequena foi colaborativa, realizando todas as atividades propostas, e apresentou dificuldade nas provas de produção de rima e transposição silábica e nas provas de exclusão, síntese, segmentação e transposição fonêmica. Também apresentou dificuldade na distinção do traço de sonoridade.

Desta vez, adorou a clínica escolhida e o método aplicado nas sessões de fonoaudiologia. Com isso, não tem resistido às sessões e aguarda ansiosa pela terapia fonoaudiológica que acontecem duas vezes na semana.

Por que optamos pela terapia fonoaudiológica?

E, a partir de agora, não só a Maria Eduarda contará com a ajuda da fonoaudióloga, mas o Blog Desafio Mamãe também! Isso mesmo, mensalmente contaremos com um post da fonoaudióloga Raquel Luzardo, da clínica FONOterapia. A Raquel é diretora da clínica fonoaudiológica com mais de 16 anos de trabalho ininterrupto com alto padrão de qualidade em atendimento clínico especializado em crianças.

Assim, além dos posts semanais, o Blog Desafio Mamãe passa a ter também um post mensal escrito por uma especialista. Gostou da novidade? Eu adorei!!!

Um abraço,

No último post, falei sobre a adaptação escolar da Maria Julia, minha caçula, na primeira escola de Educação Infantil escolhida para ela. E hoje, venho contar o desfecho da história, além de trazer algumas dicas para você, que pode estar pensando em matricular seu pequeno(a) no segundo semestre de 2018 ou ainda no início do próximo ano letivo.

O último dia em que levamos a Maria Julia para a primeira escola foi numa terça-feira. E, após tantos episódios de stress com a adaptação escolar mal sucedida, sofri grande pressão familiar para tirará-la da escola e tentar uma nova adaptação somente em 2019. Contudo, meu instinto dizia que, uma vez que iniciamos a adaptação escolar da pequena, devíamos insistir na adaptação, mesmo a trocando de escola.

Na mesma semana, entrei em contato com uma escola de Educação Infantil pela qual havia me simpatizado e que faz parte do meu caminho de retorno do trabalho, mas que não faz parte do caminho do meu marido entre a escola da nossa primogênita e seu trabalho.

Por telefone, contei a situação pela qual havíamos passado durante a primeira adaptação escolar e senti bastante segurança na conversa com a proprietária, tanto que decidi tentar uma nova adaptação naquela mesma semana.

Assim, na sexta-feira daquela mesma semana, a Maria Julia e eu fomos conhecer a escola e fazer um pequeno experimento de uma hora. À principio, minha pequena não queria sair do meu lado. Mas, poucos minutos depois, brincava com a professora que dava atenção somente para ela (profissional que seria sua professora, mas que devido ao horário combinado para nosso experimento estava disponível exclusivamente para conhecê-la). Me sentei próxima ao ambiente gentil e acolhedor, repleto de brinquedos e livros infantis, e a minha filha explorou o ambiente voltando sempre seu olhar para mim.

Sem compromisso de matrícula, compra de material escolar ou qualquer coisa do gênero, a escola e eu nos disponibilizamos a fazer a adaptação escolar da Maria Julia sem pressa.

Trabalho a cerca de 16 quilômetros de distância da escola e durante os primeiros dias usei a minha hora de almoço para me encontrar com a Maria Julia que chegava à escola com o meu marido. Ele se despedia e entrávamos para a adaptação. Algumas horas depois, a levava para a casa dos meus pais e retornava para o trabalho.

Sim, foi uma semana cansativa! Mas, para a adaptação escolar dar certo, não devemos ter pressa. Cada criança tem seu tempo para adaptar-se ao novo ambiente, à rotina escolar, para socializar-se com os colegas de classe e, principalmente, para ter segurança nos profissionais que a acolhem.

Cerca de 7 dias após o início da nova adaptação escolar, foi meu marido quem passou a levar nossas filhas para a escola. A primogênita é deixada primeiro e depois é a vez da caçula.

Demoravam alguns minutos para que nossa caçula se despedisse do papai e entrasse alegre na escola. Mas, em nenhum momento ele saiu sem que ela se despedisse. Faz parte de uma adaptação escolar de sucesso a escola estar aberta para o acesso dos pais. Se repetiu por mais de uma vez a necessidade do meu marido acompanhar até mesmo a troca de fralda da Maria Julia até que ela se sentisse segura para se despedir.

Por mais de um mês os profissionais da escola me enviavam fotos da pequena via WhatsApp (sempre que eu questionava como ela estava se saindo), mostrando como ela estava se integrando ao ambiente e interagindo com alegria aos estímulos propostos.

Adaptação escolar de sucesso

No momento em que a acompanhei na nova escola, percebi que as crianças não reparavam que eu estava ali, sentada esperando pela minha filha. Algumas passavam por mim e diziam um “oi, tia!”, mas nada que as fizesse se lembrar dos pais ou responsáveis. Entendi que a atitude do grupo de crianças mostra o quanto estão alegres, confiantes e familiarizados com o ambiente de educação.

Assim como a primeira escola, tive duas indicações da segunda escola de Educação Infantil. Mas, só vivenciando o afeto com que todos trabalham e nos recepcionam dá para entender o quão importante é termos um ambiente como este para confiar os dias dos nossos filhos.

A distância entre a escola e o trabalho do meu marido e entre a escola e a casa dos meus pais (que a buscam às segundas-feiras e quando ocorre uma emergência, como febre), deixou de ser um impeditivo tamanha alegria a Maria Julia tem em ir para a escola e tamanho carinho que tem pelos seus colegas e professora.

O uniforme escolar tem sido comprado aos poucos. Portanto, até hoje compro uma peça quando necessário.

Assim, antes de julgarmos que o problema da adaptação escolar é a criança, devemos ter acesso à escola, perceber o quanto este novo ambiente é acolhedor para ela. E, para uma adaptação escolar de sucesso, temos a necessidade de nos sentir ouvidos – tanto nós, adultos, quanto eles, nossas crianças.

Um abraço,